Praia Ubatumirim, em Ubatuba — Foto: Divulgação/GBMar
Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião estão entre as cidades mais afetadas pelo avanço do oceano. Destruição de ecossistemas pode levar à diminuição da biodiversidade.
Por Fernanda Machado, Terra da Gente
Um estudo da Climate Central, ONG norte-americana que desenvolve pesquisas sobre os impactos das alterações climáticas, revela que diversas cidades litorâneas de São Paulo correm o risco de serem engolidas pelo mar devido à erosão costeira.
Segundo a análise, cerca de 40% da costa brasileira já enfrenta os efeitos do aumento do nível do mar, reduzindo não apenas o espaço das praias, mas também a vegetação e as edificações. Para entender melhor essa situação alarmante, o Terra da Gente entrevistou o oceanógrafo Marcus Polette, especialista em Gestão da Zona Costeira.
De acordo com o professor da Universidade do Vale do Itajaí (Univali), o avanço do mar é impulsionado por uma combinação de fatores naturais e ações humanas.
“Mudanças climáticas, como o aquecimento global, alteram o nível do mar, mas atividades como a retirada de areia e a construção de barragens também contribuem significativamente para a erosão”, explica.
Praia Grande, em Ubatuba (SP), é uma das mais afetadas pela erosão costeira — Foto: Francisco Trevisan
No litoral paulista, diversas cidades têm implementado medidas como barreiras submersas e muros de contenção, além do uso de sacos de areia. No entanto, segundo o especialista, essas iniciativas precisam ser parte de uma abordagem mais abrangente.
“É essencial que as políticas públicas sejam integradas e adaptadas às realidades locais”, enfatiza.
O Mapa de Risco à Erosão Costeira do Estado de São Paulo, elaborado pelo Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA) em 2017, já catalogou áreas que podem ser invadidas. As cidades de Ubatuba, Caraguatatuba e São Sebastião, entre outras, estão entre as mais afetadas.
Implicações socioeconômicas
As implicações da erosão costeira vão além da perda de espaço físico, pois afetam a economia local, a infraestrutura e a qualidade de vida das comunidades. A destruição de ecossistemas costeiros pode levar à diminuição da biodiversidade e à perda de recursos pesqueiros, afetando diretamente as populações que dependem da pesca e do turismo.
Aumento do nível do mar reduz não apenas o espaço das praias, mas também a vegetação — Foto: Diogenes Pandini/NSC
“É crucial que os governos e as comunidades desenvolvam planos de adaptação que não apenas mitiguem os impactos imediatos, mas também promovam a resiliência a longo prazo”, afirma Polette.
O caso de Atafona: um alerta para o futuro
Um exemplo emblemático da crise de erosão é a cidade de Atafona, localizada no município de São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro. Atafona enfrenta problemas severos de erosão, resultando na destruição de casas e na perda de terras.
“O caso de Atafona é um alerta para outras cidades litorâneas. A combinação de barragens rio acima e a destruição de ecossistemas costeiros, como dunas e restingas, intensificou a erosão na região”, comenta Polette.
Para evitar que o mar avance ainda mais sobre as casas em Atafona, a Prefeitura de São João da Barra reforçou a contenção de areia — Foto: Reprodução/Prefeitura de São João da Barra
A situação de Atafona, onde a urbanização ocorreu em áreas vulneráveis, mostra como a falta de planejamento pode resultar em consequências desastrosas. “É um exemplo claro de que o crescimento desordenado, sem considerar os riscos ambientais, pode levar a um passivo econômico e social significativo”, acrescenta o oceanógrafo.
Atafona é onde o Paraíba do Sul encontra o mar e a 'Terra dos Ventos' fluminense — Foto: Reprodução/TV Globo
Desafios na Gestão Costeira
Para enfrentar a erosão, Polette destaca a importância de um planejamento urbano adequado. “Os Planos Diretores municipais devem incluir a proteção de ecossistemas costeiros, como dunas e restingas, além de considerar a Mata Atlântica”, afirma.
Mudanças climáticas, como o aquecimento global, alteram o nível do mar — Foto: Reprodução/TV Globo
O oceanógrafo reforça também a necessidade de um Projeto Orla bem estruturado e de Planos Municipais de Adaptação às Mudanças do Clima, que abordem a vulnerabilidade das comunidades costeiras.
Em regiões como Itajaí e Navegantes, ambas em Santa Catarina, que foram construídas sobre várzeas, o planejamento urbano deve ser ainda mais rigoroso. “As cidades devem evitar ocupações em áreas de risco e priorizar a restauração de ecossistemas que ajudam a proteger a costa”, sugere Polette
Educação e mobilização comunitária
A mobilização das comunidades locais é um componente crucial na luta contra os efeitos da erosão. “Programas de educação ambiental são fundamentais para conscientizar a população sobre a importância da conservação das áreas costeiras”, destaca.
“Além disso, é vital que as comunidades participem ativamente na coleta de dados sobre mudanças climáticas, contribuindo com conhecimento local que pode enriquecer as pesquisas”, completa o pesquisador.
Exemplo internacional
Para o professor, a França, que há décadas adota estratégias eficazes para proteger suas zonas costeiras, serve como um exemplo a ser seguido.
Erosão na costa de Biarritz, na França — Foto: Projeto Clamer e Agência Europeia de Meio Ambiente
“O Conservatório do Litoral francês, por exemplo, adquiriu áreas costeiras ameaçadas para garantir sua preservação. Enquanto isso, no Brasil, enfrentamos propostas como a PEC das Praias, que busca privatizar terrenos de marinha, o que pode agravar ainda mais a erosão e a degradação ambiental”, critica Polette.
Ele acredita que o Brasil precisa aprender com as experiências internacionais e implementar políticas que realmente protejam o litoral, em vez de favorecer interesses privados. “A proteção do litoral deve ser uma prioridade nacional”, conclui.
FONTE : https://g1.globo.com/sp/campinas-regiao/terra-da-gente/noticia/
Nenhum comentário:
Postar um comentário