Desde 2017, a moradora de Ubatuba Simone Godoy, 50 anos, coleciona bonecas negras. A coordenadora administrativa da cooperativa de recicláveis “Coco e Cia” já tem cerca de 40 bonecas em sua coleção, sendo a maioria encontrada no meio dos resíduos recicláveis e algumas ganhadas de amigos.
A primeira bonequinha foi resgatada por Simone quando ela começou a trabalhar na cooperativa com a irmã Gilda. A boneca estava em um saco no meio de resíduos orgânicos que já estavam em decomposição. Simone conta que ficou encantada. “Era uma boneca negra com cabelo black. Na época eu tinha tirado aplique que eu usava no cabelo e queria deixar meu cabelo black. Eu me apaixonei pela boneca, achei ela incrível. Lembrei que quando eu era criança eu tive só uma boneca negra e nunca mais, porque é difícil a gente encontrar bonecas negras”, relembra a colecionadora.
A partir daí, Simone passou a reparar mais nas lojas de brinquedos e percebeu que as bonecas negras realmente eram minoria nas prateleiras. Outra coisa que ela notou foi que no meio dos recicláveis as pessoas costumam descartar muitos objetos, entre eles algumas bonecas negras que ela começou a separar e guardar para sua coleção.
“Em qualquer loja que você vá, a proporção de bonecas negras para brancas é muito menor. Tem loja que não tem nenhuma boneca negra, é surreal. Essa brincadeira de colecionar as bonecas despertou em mim o olhar para o racismo declarado. Hoje trabalho na cooperativa com maioria de mulheres negras em situação de vulnerabilidade social e vejo a importância dos movimentos de empoderamento dos negros”, afirma Simone.
Entre as dezenas de bonequinhas de sua coleção, Simone destaca três pelas quais tem um carinho especial: a primeira encontrada na cooperativa, que a inspirou a colecionar; uma simpática boneca de pano que ganhou da irmã, comprada no bazar dos animais na Praça 13 de Maio por dois reais; e uma que ganhou de suas “sobrinhas postiças”, Rafaela e Mary, filhas de grandes amigos.
“Quero muito lutar e dar voz àquelas pessoas que não tem, e fazer com que entendam que não importa a cor, raça, etnia ou credo, somos todos iguais e todos temos um caminho lindo a percorrer enquanto houver vida”, conclui a coordenadora da “Coco e Cia”.
Por Renata Takahashi / Portal Tamoios News
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