sexta-feira, 24 de março de 2023

Movido pela conquista do título mundial de Filipinho, Ricardinho Toledo quer pagar promessa com disputa de Ironman .

 



Movido pela conquista do título mundial de Filipinho, Ricardinho Toledo quer pagar promessa com disputa de Ironman e sentencia nova fase: ‘Foguete não dá ré’

“Mordido pelo bichinho do esporte”, ex-surfista cinquentão quer voltar a encarar novos desafios e sonha com realização de etapa do mundial de surfe em  Ubatuba

Por Toni Assis

As últimas semanas em San Clemente, na Califórnia, têm sido intensas para Ricardinho Toledo. Prestes a completar 55 anos, e “mordido pelo bichinho do esporte”, o pai de Filipinho, atual campeão mundial de surfe, marca seu retorno às competições neste 1º de abril, quando volta à cena para competir no Ironman 70.3 em Oceanside, cidade localizada no estado da Califórnia, após um intervalo de quase 30 anos. Um misto de gratidão e realização se misturam nesta empreitada que ganhou o apoio da família e pode ser acompanhada por meio de fotos e vídeos no Instagram. “No ano passado fiz uma promessa de que, se o Filipinho fosse campeão mundial, iria treinar para completar o Ironman. Agora é pensar para frente. Como diz a garotada, foguete não dá ré ”, disse Ricardinho em entrevista exclusiva à reportagem do LN21.

Bastante requisitada por amantes do esporte, a prova impõe aos atletas a metade do percurso de um Ironman tradicional com 1.900 metros de natação, 90 quilômetros de bicicleta e ainda 21 quilômetros de corrida. A rotina de atividades específicas para entrar em forma teve início há seis meses. Desde então, natação e corrida, além de treinos de bicicleta, alimentação balanceada para ajudar a perder peso, e fortalecimento muscular, têm feito parte do cotidiano de Ricardinho. “Tem sido maravilhoso. Meus filhos no início acharam que era fogo de palha, mas quando coloco uma coisa na cabeça, vou até o fim. A Mari (esposa) me acompanha em muita coisa e o Filipe tá amarradão”, disse o ex-surfista cinquentão.

E essa dedicação pode ser medida pela intensidade dos treinos que acontecem seis vezes por semana. O ritmo só permite descanso aos domingos, mas é no sábado que o bicho pega. Ali, o cronograma indica trabalho de transição que inclui as três etapas do Ironman em sequência para finalizar o treino. Afiado para este retorno, o objetivo é aproveitar essa reaproximação com o esporte para manter a saúde em dia e iniciar uma nova fase familiar. Paralelo a isso, ele segue acompanhando o filho ilustre na elite do surfe mundial na expectativa de mais conquistas. Ricardinho disse ainda estar trabalhando para a realização de um outro sonho: trazer uma das etapas do circuito mundial de surfe para a cidade. “Estamos conversando com pessoas influentes e de conhecimento”. Confira tudo na entrevista.

LN21 – Como o Filipinho está vendo essa dedicação em voltar a praticar uma modalidade tão competitiva

Ricardinho – Filipe está amarradão. Não estava acreditando muito. Aliás, ninguém em casa estava acreditando muito nisso, mas estão vendo o que está acontecendo. No início, achavam que era fogo de palha, mas meus filhos me conhecem. A maior surpresa é com o ritmo da corrida, de eu conseguir diminuir o tempo. Natação e bike, eles sabiam que eu conseguiria tranquilamente. O Filipinho tá feliz com a minha evolução e isso é muito legal. Agora que eu voltei a ser mordido pelo bichinho do esporte, daqui para frente são novos desafios. Quem sabe um Ironman completo em breve. Agora é só pensar para frente. Como diz a molecada, foguete não dá ré. Eu e a Mari já fizemos várias provas de bike, já ganhamos umas medalhinhas de conclusão das provas que disputamos. A ideia é continuar firme.

LN21 – Você falou que ficou feliz por voltar a fazer algo que julgava não conseguir mais. Passou por algum problema de contusão?

Ricardinho – Sempre gostei de triathlon e cheguei a participar de alguns em Ubatuba por uns dois anos. Mas senti a coluna e tive que parar. Sofri um início de hérnia de disco, tive crises com dores. Passei um ano assim e foi uma fase difícil. Pensei que nunca mais fosse conseguir fazer uma atividade de impacto. Fiquei mais de 30 anos sem correr. Agora, a corrida está sendo a parte mais intensa para eu poder ganhar ritmo porque são 21 quilômetros. Não são cinco, ou dez, que também não é pouco.

LN21 – Qual o peso da família nessa nova fase esportiva?

Ricardinho – Família é tudo né. Passada essa fase do título do Filipe, quero cuidar mais de mim e da patroa. A Mari pedala junto comigo, damos uns rolês de bike, treinamos juntos. Isso faz bem para a cabeça, para o corpo e para a saúde. Gostamos muito de viajar pelos Estados Unidos, visitar parques e estamos conhecendo lugares excelentes para pedalar. As condições são muito favoráveis, o asfalto é bom, são muitas ciclovias e as pessoas têm muito respeito pelas outras aqui. Isso é muito legal.

LN21 – Filipinho esteve na cidade para festejar a conquista do título mundial e falou que tem o desejo de trazer uma etapa do circuito para Ubatuba. Tem alguma negociação nesse sentido?

Ricardinho – Levar uma etapa do Mundial para Ubatuba era um sonho que tentamos realizar há um tempo atrás.  Estamos conversando com pessoas influentes, de conhecimento, e de capacidade para realizar esse objetivo. Estamos trabalhando para isso. Temos a loja do Filipe na cidade e ele também é padrinho do projeto Namaskar, uma iniciativa que cuida do social e faz um trabalho muito importante junto à comunidade carente. Um projeto que vale a pena conhecer e, se alguém se sentir tocado, ajudar também. O Filipe ficou muito feliz com a recepção pela conquista do título mundial, A festa foi bonita e fiquei muito contente. Infelizmente não pude estar presente, mas fizemos vários ao vivo para festejar aquele momento.

LN21 – Como surgiu essa ideia de voltar a praticar esporte em uma prova que exige tanto.

Ricardinho – Decidi fazer esse desafio como uma promessa, pois era um sonho que eu tinha desde garoto. Isso, no entanto, acabou ficando para trás por conta de assessorar a carreira do Filipe. Estar viajando, dedicando a minha vida durante 12 anos em busca desse sonho de ser um atleta da elite mundial, acabou fazendo com que eu parasse com minhas atividades para auxiliá-lo nesse processo. Surfava eventualmente por causa dessa rotina. Com o passar do tempo você vai ficando mais acomodado e quer fazer menos coisa. O corpo relaxa e a cabeça não quer acompanhar. Depois dessa maratona, nós conversamos e chegamos em um consenso. O Filipe já está mais maduro e com condições de seguir a carreira sozinho. Eu posso ficar mais tempo por aqui para ajudar em casa, cuidar um pouco da esposa, dos filhos menores, (Davi e Sofia). É bom também porque sobra um tempo para mim. Estava muito parado e vi necessidade de fazer alguma coisa.

LN21 – Como foi esse retorno à prática de esportes depois de ficar quase 30 anos parado?

Ricardinho – Essa volta teve o incentivo do José Graça, que inclusive é de Ubatuba, é triatleta, e mora no Havaí. O primeiro passo foi pedalar. Daí, comecei a fazer ciclismo. Fomos a Utah (estado localizado no oeste dos Estados Unidos), estivemos nos grandes parques, conhecidos como Big Five, e pedalamos durante quase um mês pelas montanhas. Fizemos trajetos longos de 60 a 80 quilômetros. Fui ganhando ritmo, saindo do comodismo, perdendo peso, e isso me animou demais. Depois disso, nunca mais parei.

LN21 – Para disputar uma prova que exige tanto preparo de um atleta, você teve ajuda de algum treinador específico?

Ricardinho – Com o título mundial do Filipe, decidi começar um treinamento firme para completar um meio Ironman que é uma modalidade muito requisitada pelos atletas. São 1.900 metros de natação, 90 quilômetros de pedal e mais 21 de corrida, o que não é pouco.
Conheci o Derik Afornali, que é treinador de vários atletas do Brasil, inclusive, e fizemos a Race Across América, aquela prova de bike que atravessa os Estados Unidos desde Oceanside até Maryland, com um percurso que dá mais de três mil e poucas milhas (algo em torno de 4.800 quilômetros). Falei da minha ideia de correr o meio Ironman para o Afornali, e ele gostou muito. Achou alucinante. Desde então, estamos nesse desafio. Faltam poucos dias para a prova e estou quase pronto. O ritmo nessa reta final tem sido muito forte.

LN21 – Como é a rotina do seu treinamento?

Ricardinho – Tenho treinado duas modalidades por dia e só no domingo que eu tenho descanso. Nesse último mês tem sido bem pesado. Tenho me alimentado menos, mas com mais qualidade, e já perdi bastante peso. O ritmo de corrida, que sempre foi a minha dificuldade, está bem legal. Já consegui fazer os 21 quilômetros do percurso em um treino. Só para você ter uma ideia, quando comecei neste processo, já ficava cansado quando fazia dois, três quilômetros. A evolução está ótima. Isso prova que tudo é possível e só depende de você e de sua disciplina. Tem sido cansativo, mas também prazeroso enxergar o progresso. Feliz pela oportunidade de fazer algo que eu pensei nunca mais conseguir praticar na vida. Minha rotina de treino tem natação e corrida em um dia. Pedal e natação no outro. Nos finais de semana a atividade é mais longa por causa das transições. Por exemplo, pedalo 70 quilômetros, chego em casa, coloco o tênis e corro dez quilômetros, e por aí vai. Porque é isso que vai acontecer no dia. Nadar, sair do mar e pegar a bicicleta, e depois completar com a corrida. Tenho que adaptar meu corpo. O cara que me treina é o Cris Solak (envolvido com triatlon desde 1995 e um dos maiores especialistas em treinamento com medidores de potência).Faço fortalecimento de quadril, lombar, pernas, posterior de pernas, tudo para poder aguentar a corrida.

LN21 – Sua carreira está ligada ao surfe com conquistas importantes, entre eles, três títulos nacionais. Mas você sempre gostou de esportes em geral né.

Ricardinho – Sim. Desde a escola. Na época do Deolindo a gente corria para a quadra no horário do intervalo para jogar bola naqueles 15 minutos. E naquela época tinha uma molecada muito boa, não era fácil (risos). Uma disputa danada. Mas sem dúvida que o surfe foi o carro-chefe. Três títulos Brasileiros, o primeiro, com 17 anos, foi um marco. Depois teve ainda mais dois que ganhei no ano do nascimento dos meus filhos. O tempo passa rápido. Falaram isso para mim, mas não quis ouvir. Mas tá bom demais Foram mais de dez anos viajando e cuidando do Filipinho. Agora estou mais nessa fase de ficar em casa com a patroa e curtindo essa nova fase.

 

Fotos: Arquivo Pessoal

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