Ubatuba, tal como quase todas as cidades litorâneas estabelecidas pelos “descobridores” portugueses no início da colonização, passou por várias crises econômicas. Os motivos foram diversos: esgotamento do pau brasil, clima inadequada para o cultivo da cana, solo empobrecido pelo cultivo intenso de café, invasão de terras no interior do país (novas áreas agrícolas), descoberta do ouro nos sertões, falta de vias adequadas para acesso ao porto marítimo, decisões arbitrárias de governantes etc. Por consequência, uma população pobre precisou se agarrar firmemente nas tradições básicas de sobrevivência, tal como caça e pesca, cultivo da mandioca, banana etc.
Já aprendemos que, na história do Brasil, neste contexto acima, não havia educação básica. A catequese dos padres até podia alfabetizar, mas a intenção maior era “conquistar almas para Deus”, expandir a religião católica, tornar as pessoas conformadas aos ditames dos poderosos políticos, dos que detinham o poder econômico. Os filhos destes (“senhores da terra” que se aproveitavam do suor dos indígenas, negros e brancos marginalizados) tinham a chance de irem morar em cidades grandes e até na Europa para prosseguirem nos estudos. Dá para imaginar, então, quais eram as perspectivas dos trabalhadores e suas famílias que apenas tinham o trabalho, a preocupação com a sobrevivência? Nenhuma! Aqui, nem os padres, primeiros professores deste território imenso, se atreveram a pensar na educação da população. Pelas leituras, eu pude concluir que apenas no final do século XIX apareceu gente que se voltou para essa questão da educação escolar. Foi o médico Esteves da Silva e outras pessoas instruídas da cidade que se debruçaram sobre a preocupação da falta de escolarização e fundaram o Ateneu Ubatubense.
No livro do Seo Filhinho, Ubatuba Documentário, tem uma passagem interessante, ocorrida em 1881, quando pouco mais de doze lampiões de querosene foram instalados no centro da cidade, nas esquinas principais, para iluminarem as noites. Eles duraram décadas. Era a iluminação pública que fazia sucesso. À querosene! Mas escolhi o referido evento porque os vereadores produziram um texto na ocasião da inauguração, cujo último capítulo é o seguinte:
Esta Câmara saúda a Associação do Ateneu Ubatubense à frente da qual se acha o seu mui digno e ilustrado Presidente Dr. João Diogo Esteves da Silva, pelo projeto da criação da aula noturna para adultos, melhoramento intelectual de grande alcance, pois que esta Câmara está convicta de que a maior riqueza das nações e assim das frações desta é a instrução derramada pelo povo e os melhoramentos materiais para o bem-estar do mesmo povo.
Quisera eu que não fosse esquecida a última parte do texto inaugural: “...esta Câmara está convicta de que a maior riqueza das nações e assim das frações desta é a instrução derramada pelo povo e os melhoramentos materiais para o bem-estar do mesmo povo”. Ubatuba é uma fração desta nação. Os legisladores atuais da cidade pensam assim ou seus discursos são apenas palavras ao vento, sem comprometimento ?
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