Representantes do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) estiveram no último fim de semana em Ubatuba, no Litoral Norte Paulista, para discutir a revalidação do plano de salvaguarda e do dossiê do Fandango, reconhecido como patrimônio imaterial desde 2012.
Os técnicos do Iphan estiveram reunidos com os apreciadores e representantes dessa cultura da cidade, entre eles, membros dos grupos Fandango Caiçara, Fandango Bacurau, Fandango do Mestre Pedrinho e Sementes do Prumirim.
A reunião ocorreu no fim de semana passado, na Escola Municipal Marina Salete, no bairro do Perequê-Açu. Foram abordados temas importantes para manutenção e divulgação do Fandango, como parcerias com universidades, entidades municipais e federais, bem como instituições privadas, com o intuito de fortalecer o apoio à preservação do Fandango.
“O próximo passo será a elaboração desse documento (o plano de salvaguarda), que será apresentado para as entidades públicas, com demandas e cobranças dentro das pautas abordadas na reunião (dos eixos temáticos debatidos)”, explicou Robinho Fernandes, membro do grupo Fandango Bacurau.
Plano de salvaguarda
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Turismo e que responde pela preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. Segundo o Iphan, é definido como “salvaguarda” toda medida que visa garantir o patrimônio cultural imaterial, tais como a identificação, a documentação, a investigação, a preservação, a proteção, a promoção, a valorização, a transmissão – essencialmente por meio da educação formal e não-formal – e a revitalização deste patrimônio em seus diversos aspectos.
Um plano de salvaguarda é um instrumento de gestão compartilhada, um acordo social construído entre agentes que têm como objetivo comum a viabilização de ações de salvaguarda do bem cultural registrado, almejando proteger e promover essa cultura e o contexto histórico e social em que a prática ocorre.
Fandango
Trata-se de um conjunto de várias danças de natureza popular, conhecidas como ‘marcas’. Embora já tenha sido executado nas celebrações sediadas em palácios, hoje ele está integrado ao folclore brasileiro, principalmente o do sul do país, e seus movimentos e gestos causam profundo impacto nos que testemunham esta coreografia.
Estas danças desembarcaram nas praias paranaenses pelas mãos dos portugueses açorianos, que detinham forte inspiração da cultura espanhola, aproximadamente em 1750. O fandango passou então a integrar as comemorações do Intrudo, o ancestral do Carnaval. Durante 4 dias os dançarinos, chamados de ‘folgadores’ e ‘folgadeiras’, praticavam os mais diversos bailados – entre eles o Anu, Andorinha, Chimarrita, Tonta, Caranguejo, Vilão do Lenço, Sabiá, Marinheiro, Xarazinho, Xará Grande, entre outros – e consumiam o tradicional Barreado, mistura de carne e toucinho.
Com o passar do tempo, o Fandango executado no Paraná foi assimilado pelo caboclo do litoral, assumindo assim seu caráter folclórico, e desta forma é preservado até hoje. Suas danças podem ser bailadas ou sapateadas, invariavelmente; apenas se modificam as músicas e as palavras. Aliás, estas coreografias não prescindem jamais da poesia cantada e da viola, sua ferramenta essencial.
Além do uso de duas violas, é fundamental também a presença do acordeão, da rabeca e do pandeiro rural, conhecido como adufo ou maxixe. Normalmente as violas, que quase sempre são compostas de cinco cordas duplas e uma meia corda, são confeccionadas com a caxeta, uma espécie de madeira, bem aprimorada artisticamente. Os dançarinos, trajando típicas vestes gaúchas, giram em torno um do outro sensualmente, sem jamais se roçarem, nem mesmo com as mãos. Os casais executam movimentos tentadores, insinuantes e ondulantes.
Os homens sapateiam sem cessar, provocando assim o constante e ritmado soar das esporas, que acabam atuando como um instrumento a mais. Eles se movem em linhas sinuosas, como as serpentes, enquanto as mulheres também avançam sutilmente, movimentando-se com meneios lânguidos, sem recorrer ao sapateado, apenas marcando sua evolução espacial com castanholas.
As danças que compõem o fandango podem ser rufadas ou batidas, imitando o som de tambores; bailadas ou semelhantes às valsas; uma mescla do estilo rufado e do valsado. Sempre se parte de um amplo círculo, integrado pelos homens e suas parceiras, o qual se transforma constantemente, pois em um momento os casais estão frente a frente, em outro eles se encontram ao lado um do outro. Seus movimentos refletem as paixões e desejos mal contidos, sentimentos que deixam os pares em estado de êxtase.
Há um estilo, porém, o ‘tatuí’, no qual os cavalheiros dispensam suas damas, sendo praticado por dez homens. Eles começam a dançar ao som de pancadas com a palma da mão ou ao soar das castanholas, e se movem da esquerda para a direita. Os passos que compõem esta coreografia são o viracorpo, pega-na-bota, quebra-chifre, pula-sela, mandadinho, cada um com suas características especiais, mas todas se concluem com a formação de uma nova roda.
Atualmente o Fandango se estende do extremo sul a São Paulo. No litoral paulista o Fandango inclui coreografias que englobam ou não o sapateado, entre elas o DãoDão, DãoDãozinho, Graciana, Tiraninha, Tirana-Grande, Rica-Senhora, Recortado, Recortado Grande, Morro Seco, Pica-Pau, João Dum Maruca, São João do Porto, Chimarrita, Querumana, e outras mais. A música é normalmente composta em compasso binário.
O Fandango original integrava as peças teatrais encenadas nas celebrações jesuítas, como a marujada, a nau catarineta, e outras figuras do folclore brasileiro. Sua modalidade rural, porém, se refere a várias coreografias conhecidas genericamente como danças de salão, especialmente na região Sul. Assim este termo se estendeu a qualquer reunião de pessoas para dançar ou a todo tipo de diversão. Fonte Infoescla/ Ana Lúcia Santana
FONTE : https://noticiasdaspraias.com/2024/06/16/iphan-faz-plano-para-salvaguarda-do-fandango-em-ubatuba/
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