Prestes a atingir a maturidade sexual, filhote de
raia-viola-de-cara-curta representa marco na produção de conhecimento sobre a
espécie.
Por Giovanna Adelle, Terra da Gente
Em fevereiro de 2023, a equipe de manejo do Aquário de
Ubatuba, localizado no litoral norte de São Paulo, comemorou o nascimento de
mais um filhote da espécie raia-viola-de-cara-curta (Zapteryx brevirostrix), um
macho que foi chamado de “Violinha”.
O nascimento e desenvolvimento satisfatório do indivíduo
representou para a equipe a validação do protocolo de manejo e cultivo da
espécie, que vem sendo desenvolvido desde 2002. A instituição foi o primeiro
aquário do Brasil a reproduzir raias de pequeno porte em cativeiro.
Macho da espécie raia-viola-de-cara-curta nasceu no Aquário de Ubatuba — Foto: Giovanna Adelle / TG
"Como não havia trabalhos de manejo de filhotes de
raias que indicassem as melhores condições de vida para esses animais que
pudéssemos utilizar como referência, não tínhamos um protocolo de manejo e
cultivo, o que dificultava a sobrevivência desses filhotes”, explica Laura
Simões, coordenadora de manejo no Aquário de Ubatuba.
A cada nascimento, a equipe buscou entender e aperfeiçoar
condições como qualidade de água, alimentação, tipo de substrato e outros
aspectos que envolvem o cuidado das raias. Por fim, os resultados do trabalho
de mais de duas décadas apareceram no desenvolvimento rápido do filhote
Violinha, que já passou para recinto de exposição junto a outras raias adultas.
“Ele está se desenvolvendo super bem e desde o início se
alimenta com quantidades suficientes para crescer. Ele segue com apetite voraz
e cresce e engorda um pouquinho toda semana”, comemora Laura.
Prestes a atingir a maturidade sexual, Violinha já tem mais
de 30 centímetros e pesa cerca de 200 gramas. A ideia dos biólogos agora é
fazer com que o macho se reproduza com uma das fêmeas do aquário, para que se
feche o ciclo completo da espécie.
Violinha, à esquerda, já divide o tanque de exposição com raias adultas — Foto: Giovanna Adelle / TG
“Dominar o ciclo de vida através do manejo responsável de
uma espécie, principalmente ameaçada de extinção, pode garantir populações de
segurança, contribuindo para a conservação das raias no Brasil”, afirma a
coordenadora.
Segundo ela, a produção desse tipo de conhecimento
científico é essencial em uma realidade de degradação crescente de habitats. A
instituição também realiza pesquisas com a raia Rhinoptera bonasus e espécies
de águas-vivas, cavalos-marinhos e estrelas-do-mar.
Biólogos do aquário realizam biometrias e outros
procedimentos para acompanhar crescimento das raias — Foto: Aquário de Ubatuba
Biólogos do aquário realizam biometrias e outros
procedimentos para acompanhar crescimento das raias — Foto: Aquário de Ubatuba
A espécie
A raia-viola-de-cara-curta é endêmica do Atlântico Sul e está
classificada como Em Perigo (EN) pela IUCN. Apesar de não ser alvo de pesca
comercial, a espécie acaba sendo capturada na pesca de arrasto de camarão por
viver no mesmo ambiente que o crustáceo.
“Como o camarão fica sempre associado ao fundo do mar, a
pesca de arrasto é feita por uma rede que vai varrendo esse local e a raia
acaba sendo capturada acidentalmente”, diz Laura.
Assim como outras raias, esta possui os olhos na parte
superior do corpo e a boca na parte inferior — Foto: Aquário de Ubatuba
Assim como outras raias, esta possui os olhos na parte superior do corpo e a boca na parte inferior —
A espécie se alimenta de crustáceos e poliquetas (vermes
segmentados pertencentes ao filo Annelida). Uma curiosidade sobre a reprodução
dela está na ovoviviparidade, o que significa que o embrião se desenvolve em um
ovo alojado dentro do corpo da mãe.
Nenhum comentário:
Postar um comentário