Congestionamentos, sobrecarga de rotas alternativas e décadas de atraso na infraestrutura expõem a necessidade de investimentos estruturais na cidade
Por Ednelson Prado - site ln21 - https://ln21.com.br/
Mais uma temporada de verão em Ubatuba, e o trânsito da cidade prova, mais uma vez, que está à beira do colapso. Congestionamentos em ruas centrais, rodovias transformadas em avenidas urbanas e estradas alternativas sobrecarregadas revelam a urgência de um plano de mobilidade urbana robusto. Já tivemos um, há uma década, mas que não caminhou, pois as ações resultantes desse planejamento foram extremamente tímidas, quase irrisórias. Moradores e turistas enfrentam o caos diário em horários de pico, um reflexo de décadas sem planejamento adequado e investimentos consistentes na infraestrutura viária da cidade.
Rotas alternativas sobrecarregadas: o colapso chega a novos territórios
Antigamente consideradas refúgios para evitar os congestionamentos das áreas centrais, as rotas alternativas de Ubatuba agora enfrentam o mesmo destino das vias principais: a superlotação. Um exemplo disso é a estrada que liga o Monte Valério ao Rio Escuro, antes vista como uma solução para fugir do trânsito intenso nos trechos da rodovia SP-55, especialmente na altura de bairros como Praia Grande e Toninhas. Hoje, com o advento dos aplicativos de navegação, essa rota tornou-se apenas mais uma estrada congestionada.
As consequências desse fluxo intenso também são perceptíveis em pontos críticos, como a rotatória do Pescador, na entrada do centro da cidade. Com o crescimento populacional na região oeste, o volume de veículos nesse cruzamento aumenta exponencialmente nos horários de pico, levando motoristas a perderem longos minutos e até horas no trajeto.
Trinta anos sem avanços estruturais
O atual colapso do trânsito não é um fenômeno novo; ele resulta de 30 anos de negligência na implementação de políticas públicas voltadas à mobilidade urbana. Nesse período, a frota de veículos na cidade quintuplicou, mas as intervenções estruturais ficaram estagnadas. Obras básicas, como viadutos, pontes e túneis, continuam ausentes, enquanto intervenções pontuais, como recapeamento e pintura de faixas, oferecem soluções paliativas para problemas cada vez mais graves.
Algumas vias, como a Rua Taubaté, ilustram o quão inadequada é a estrutura atual. A rua continua a operar em mão dupla, mesmo com estacionamento em um dos lados e um fluxo crescente de veículos, agravado durante a temporada. Esse "gargalo" diário penaliza não apenas motoristas, mas também pedestres e ciclistas, evidenciando a falta de planejamento na organização do tráfego.
Além disso, a ausência de semáforos inteligentes, que poderiam ajustar automaticamente o fluxo conforme a demanda, agrava os congestionamentos, especialmente em cruzamentos estratégicos da cidade. Sistemas binários, que otimizam o uso de vias paralelas, sequer foram cogitados em áreas de grande movimentação, como nos trechos que conectam Barra da Lagoa, Estufa I e Itaguá.
Impactos econômicos e sociais
O impacto do caos no trânsito vai muito além da impaciência dos motoristas. Para o comércio local, um trânsito travado significa menos consumidores circulando, o que prejudica diretamente as vendas, especialmente no período em que a cidade recebe seu maior volume de turistas. Além disso, a experiência do visitante, que deveria ser marcada por descanso e lazer, torna-se frustrante, reduzindo o potencial de Ubatuba como destino turístico.
Os reflexos negativos também se estendem à qualidade de vida dos moradores, que convivem diariamente com o trânsito pesado e a falta de alternativas viáveis de mobilidade. A sensação é de que a cidade parou no tempo, incapaz de acompanhar seu crescimento populacional e a demanda por infraestrutura moderna.
Pontes inacabadas: o símbolo do atraso
As pontes da Folha Seca e Angelim são exemplos emblemáticos do abandono de projetos essenciais para o fluxo viário da cidade. Anos de promessas e pouca ação resultaram em obras paralisadas ou sequer iniciadas, evidenciando a incapacidade administrativa de resolver problemas básicos. Se questões emergenciais como essas continuam sem solução, o que dizer de intervenções mais complexas e necessárias, como a construção de viadutos e túneis?
O que precisa ser feito
Para Ubatuba sair desse ciclo de caos, é necessário um plano de mobilidade urbana que vá além de soluções pontuais. Isso inclui:
- Mapeamento das necessidades locais: Identificar os principais gargalos de tráfego e priorizar intervenções nessas áreas.
- Semáforos inteligentes: Implementar tecnologias que ajustem os tempos de sinalização conforme o fluxo de veículos.
- Sistema binário nas vias centrais: Adotar o uso de ruas paralelas para organizar melhor o trânsito, mesmo que isso exija obras de ampliação ou abertura de novas vias.
- Construção de obras estruturais: Viadutos, pontes e túneis precisam ser incluídos no planejamento a longo prazo.
- Parcerias para captar recursos: Com o tesouro municipal limitado, a Prefeitura deve buscar verbas estaduais e federais, por meio de projetos bem fundamentados, junto ao Palácio dos Bandeirantes e ao governo federal.
A urgência do presente e o risco do futuro
A cada temporada, a situação piora. Mais carros chegam, os problemas se multiplicam, e o custo das intervenções aumenta. Adiar essas decisões significa tornar os problemas ainda mais difíceis de resolver, além de comprometer o potencial de Ubatuba como um dos destinos turísticos mais procurados do Brasil.
Se a atual administração não agir agora, estará apenas repetindo o erro das sete gestões anteriores que, com descaso ou incompetência, condenaram a cidade a conviver com o atraso. Planejar e investir em mobilidade urbana não é apenas uma questão técnica; é uma necessidade vital para garantir qualidade de vida, desenvolvimento econômico e a preservação da atratividade turística de Ubatuba.
A cidade, com toda a sua beleza natural, merece mais do que ruas travadas e soluções improvisadas. O momento de mudar é agora antes que o trânsito parado se torne o símbolo definitivo de uma cidade que não soube evoluir.
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