Mazzaropi na Praça: Ubatuba nos Cinemas

 


Em 1979, Ubatuba ainda era um retrato tranquilo do litoral paulista. A praça da Igreja Matriz, com seu coreto ao centro e palmeiras enfileiradas, era ponto de encontro de pescadores, senhoras com sombrinhas e meninos descalços que soltavam pipa sob o sol.
Ninguém ali imaginava que, naquela semana, a rotina da cidade mudaria completamente.


Na calada da manhã, caminhões chegaram carregando refletores, rolos de cabos, figurinos e instrumentos musicais. Do meio do tumulto, desceu um homem de terno claro, sapato empoeirado e sorriso de quem já sabia das coisas. Era ele — Mazzaropi, o mais amado caipira do Brasil.
Logo espalhou-se a notícia: “Vão gravar um filme aqui! E o Mazzaropi tá na praça!”
Crianças saíram correndo das escolas, senhoras se arrumaram às pressas para ver de perto o artista, e até o padre da matriz apareceu à porta da igreja, curioso com o burburinho. A praça virou cenário, e a cidade, figurante.
No centro de tudo, Mazzaropi encarnava Gostoso, um caipira injustiçado que liderava uma banda formada por senhoras idosas — as tais “velhas virgens” do título. As cenas no coreto misturavam humor e ternura. As velhinhas tocavam instrumentos com ares de quem nunca tinha segurado um trombone na vida, e Mazzaropi conduzia tudo com seu jeito desengonçado e genial.
As filmagens se misturavam com a vida real. Um morador local, o lendário Zezinho, atravessava as cenas sem perceber, arrancando gargalhadas da equipe. Outro oferecia água de coco para o diretor. O pipoqueiro virou parte do elenco. E assim, Ubatuba foi costurada ao filme como quem entra na história sem pedir licença.
A praia do Perequê Açú também serviu de cenário. Ondas brandas quebravam ao fundo enquanto os personagens se envolviam em situações cômicas e absurdas, como se o riso fosse uma forma de resistir às injustiças do mundo.
“A Banda das Velhas Virgens” não era apenas mais um filme de Mazzaropi. Era, para Ubatuba, uma cápsula do tempo. Um registro da praça sem prédios, da cidade sem pressa, das pessoas com o rosto ao natural.
Hoje, quem assiste ao filme reconhece paisagens, lembranças e talvez até um parente passando ao fundo, distraído. Para quem viveu aquilo, não foi apenas cinema.
Foi história acontecendo com cheiro de mar, som de trombone desafinado e gargalhadas no ar.

GUINHO CAIÇARA
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