Cercos flutuantes: armadilhas fixas de pesca, são utilizadas pelos caiçaras no Litoral Norte Paulista há mais de 100 anos
Foto Capa: reprodução de imagem feita por Sócrates Barranco de Matos para o vídeo “O Cerco Flutuante na pesca artesanal de São Sebastião”
A prática da pesca com cerco flutuante, usada há mais de 100 anos por famílias caiçaras, teve inicio em Ilhabela e é considerada uma das mais sustentáveis modalidades de pesca artesanal
Por Salim Burihan
Os cercos flutuantes, armadilhas fixas de pesca, são utilizados pelos caiçaras no Litoral Norte Paulista para a pesca artesanal. Os cercos da APAMLN (Área de Proteção Ambiental Marinha do Litoral Norte) estão em processo de renovação do cadastro. Estes tipos de apetrechos de pesca são regulamentados pela Resolução SMA nº 78/2016.
São cerca de 93 pontos cadastrados, 49 deles, em Ilhabela. Como qualquer outra arte de pesca, os cercos flutuantes seguem as normas federais de pesca, como o RGP e o permissionamento. No Litoral Norte Paulista existem apenas cercos flutuantes; no Litoral Sul, há cercos fixos.
O cerco flutuante é uma das formas de pescaria mais sustentáveis ambientalmente em função de seu método passivo, em que o peixe permanece vivo dentro da armadilha até o momento da despesca. Isto torna seletiva a pescaria, permitindo a soltura dos animais que não apresentam valor comercial, que não são alvo de consumo, que estejam em época de defeso ou, ainda, que sejam ameaçados de extinção, como tartarugas e raias.
Este tipo de apetrecho de pesca foi introduzido no Brasil, em Ilhabela, no Litoral Norte de São Paulo, por japoneses na década de 1920. O petrecho é utilizado até os dias de hoje por comunidades caiçaras da região.
Os cercos flutuantes podem ser encontrados em Ilhabela, na praia do Bonete nas ilhas do Búzio Vitória; em Caraguatatuba, na Ilha do Tamamduá; em São Sebastião, na praia de Toque Toque Pequeno, Boçucanga e Maresias; em Ubatuba, existem oito cercos apenas na ilha Anchieta e outros na Ilha do Mar Virado e na Picinguaba.
Os cercos são considerados uma das formas de pescaria mais sustentáveis ambientalmente em função de seu método passivo, em que o peixe permanece vivo dentro da armadilha até o momento da despesca.
Isto torna seletiva a pescaria, permitindo a soltura dos animais que não apresentam valor comercial, que não são alvo de consumo, que estejam em época de defeso ou, ainda, que sejam ameaçados de extinção. As espécies de peixes mais capturadas nos cercos são: Espada, Bonito, Carapau, Galo, Sororoca, Cavala, Anchova, Pampo, Xaréu e Sardinha.
O Cerco

O cerco flutuante funciona como uma armadilha passiva e sustentável, que utiliza uma grande rede em forma de labirinto para capturar peixes, sem os ferir e permitindo a devolução dos juvenis e espécies protegidas.
Uma longa “espiar” ou “caminho” direciona os peixes para dentro da rede, fixada à costa, impedindo a fuga. O cerco é monitorado e os peixes maiores são recolhidos três vezes por dia, enquanto os menores são devolvidos ao mar, garantindo o frescor do pescado e a conservação das espécies.
Componentes do Cerco
- Caminho(ou Espia): Uma grande rede retangular que se estende da costa, guiando os cardumes para a entrada do cerco.
- Rodo(ou Cerco): A parte principal da armadilha, um “rodo” de rede que forma o labirinto onde os peixes ficam presos.
Funcionamento da Pesca
- Instalação: A espiar é fixada a um costão rochoso, e o cerco é instalado em um local abrigado.
- Captura Passiva: Os peixes, ao nadarem pela água, são direcionados pelo caminho para dentro do cerco.
- Aprisionamento: A estrutura da rede impede que os peixes encontrem a saída, ficando presos no cerco.
- Monitoramento e Seleção: A rede é inspecionada várias vezes ao dia, permitindo aos pescadores selecionar os peixes grandes e devolver os juvenis, filhotes e espécies em período de reprodução ao mar.
- Manutenção: A rede é retirada periodicamente para limpeza, reparo e manutenção.
Vantagens
- Sustentabilidade: Permite a pesca seletiva e a devolução de peixes para a reprodução, protegendo o ecossistema marinho.
- Pescado de Qualidade: A pesca ainda viva garante um produto mais fresco, com maior tempo de validade nos mercados.
- Segurança: A pesca ocorre próximo à costa, reduzindo a necessidade de longas viagens e os gastos com combustível.
- Tradição e Comunitária: É uma arte de pesca tradicional e sustentável, que promove a segurança e a economia local.
Ilhabela
Na próxima quinta-feira (2), a APA Marinha Litoral Norte via Fundação Florestal, fará a entrega da carteira de recadastro dos cercos flutuantes de Ilhabela aos pescadores artesanais da ilha. O evento tem o apoio da Colônia de Pescadores Z-06 Senador Vergueiro e da Secretaria Municipal das Comunidades Tradicionais, Pesca e Agricultura de Ilhabela.
O recadastramento dos cercos flutuantes é um marco na defesa dos direitos das comunidades tradicionais sobre seus territórios de pesca, que garante o cumprimento das legislações ambientais e promove a sustentabilidade em seus três pilares: econômico, social e ambiental. Ilhabela possuí cerca de 50 cercos flutuantes.
Aqueles que ainda não possuem a carteirinha terão a oportunidade de solicitar a licença no mutirão de regularização do evento. O documento oficial reconhece o pescador como autorizado a utilizar o apetrecho de pesca e como detentor da Licença de Pesca para Cerco Flutuante.
Vídeo

Um vídeo “O Cerco Flutuante na pesca artesanal de São Sebastião”, produzido pela Prefeitura Municipal de São Sebastião, através da Fundação Cultural e Educacional Deodato Santana, Secretaria de Turismo e Secretaria de Meio Ambiente e postados nas redes sociais na última quarta-feira, dia 24, conta um pouco da história dos cercos flutuantes de São Sebastião. Vale a pena assistir.
No vídeo, com 21 minutos de duração, produzido por Ana Gabriela de Jesus Araújo, Maurício Rúbio Pinto, Rafael Cliquet Luciano e Luis Antônio França Pereira pescadores de São Sebastião contam histórias sobre os cercos no município. O pescador Nunes, de Maresias, lamentou a queda na captura de pescados nos cercos devido a intensidade da pesca industrial e das traineiras que vem de outros estados praticar a pesca na costa sul de São Sebastião. Nunes alegou ainda que aumentou muito a poluição no mar do Litoral Norte.
Segundo a prefeitura, o vídeo faz parte da exposição “Territórios das In-Fluências: Japoneses e caiçaras, o Eri. o iriko e o Nori”. A exposição que fez parte da programação do Festival da Cultura Japonesa – São Sebastião Matsuri 2025 e conta sobre a influência histórica dos japoneses e suas técnicas, na pesca artesanal caiçara, em particular na cidade de São Sebastião – SP.
Confira o vídeo:
Fotos: Reprodução do Vídeo O Cerco Flutuante na pesca artesanal de São Sebastião, produzido pela Prefeitura Municipal de São Sebastião, através da Fundação Cultural e Educacional Deodato Santana, Secretaria de Turismo e Secretaria de Meio Ambiente, Sócrates Barranco de Matos e cedidas pela Fundação Florestal.
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