segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Árvore rara encontrada em Ubatuba será conservada em jardins botânicos

 


Enquanto caminhava pela trilha do Pico do Piúva, que fica na região centro-norte de Ubatuba (SP), o biólogo especialista em botânica José Ataliba Gomes encontrou uma população de uma árvore rara para a região, a Hortia brasiliana. A árvore nativa pertence à família Rutaceae (a mesma do limão, da laranja e da arruda) e é popularmente chamada de paratudo. Não havia registro da ocorrência desta espécie em área de mata nativa no Estado de São Paulo há 52 anos.

A partir dessa descoberta, Ataliba buscou seguir um dos tópicos da Estratégia Global para a Conservação de Plantas, programa da Organização das Nações Unidas, que recomenda que plantas raras e ameaçadas sejam conservadas em coleções ex-situ, ou seja, fora do lugar de origem, em locais como jardins botânicos.

“O biólogo Murilo do Canto Batista Alves veio, coletou sementes e levou para o Instituto Agronômico de Campinas (IAC), onde ele atua como curador do herbário. Essa planta vai ser reproduzida lá e a gente vai encaminhar essas mudas depois para os jardins botânicos de Jundiaí, de São Paulo e também para o do Inhotim, em Minas Gerais”, conta Ataliba.

É no herbário do IAC que está depositada a amostra de uma coleta feita em 1972 em São Sebastião (SP), único exemplar da espécie coletado em área de mata nativa no Estado paulista até a nova descoberta recente em Ubatuba.

“Uma parte das mudas de Hortia brasiliana produzidas no IAC ficará na instituição, disponível para pesquisas científicas, e outra parte será doada para jardins botânicos. A produção de mudas de árvores raras para distribuição em jardins botânicos é um trabalho fundamental para a conservação da biodiversidade. Alguns motivos que destacam sua relevância são a preservação de espécies ameaçadas, a educação e sensibilização, a pesquisa científica, a reintrodução e restauração de ecossistemas, a resiliência contra mudanças climáticas e a proteção de conhecimentos tradicionais”, explica o biólogo Murilo Alves.

Um dos locais que receberá mudas de Hortia brasiliana nascidas de sementes coletadas em Ubatuba é o jardim botânico do Instituto Inhotim, em Brumadinho (MG). Segundo o curador botânico Juliano Borin, o local trabalha principalmente com plantas de cerrado e mata atlântica, porque fica em área de transição entre esses dois biomas, mas possui também programas de conservação de espécies ameaçadas de outros biomas brasileiros.

Ele explica que a exposição de plantas ameaçadas no jardim botânico busca sensibilizar o público. “Tem que conhecer para preservar, planta que você não conhece você chama de mato. A gente coloca interpretação botânica, contando um pouco da história dessas plantas, qual é a importância delas, se tem alguma relação com a fauna, alguma utilização etnobotânica, acaba falando de ecologia também”, explica Borin. De acordo com o curador botânico, o Inhotim recebe 400 mil pessoas por ano, sendo uma grande vitrine para propagar o conhecimento científico, botânico e a necessidade de preservação da nossa flora.

Segundo o botânico e professor Milton Groppo, do Departamento de Biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, a Hortia brasiliana dá frutos azedos, que possuem uma polpa mole e esverdeada, e que são muito procurados por pacas e cotias, além de algumas aves, portanto é uma árvore importante para a alimentação da fauna local.

A Hortia brasiliana possui propriedades medicinais, mas ainda não foi muito bem estudada do ponto de vista farmacológico. A árvore também pode ser utilizada como madeira, para carpintaria, mas como é uma planta rara e sem produção comercial, esse uso é pouco explorado. Outro potencial é o de uso paisagístico, pois ela dá belas flores, em grandes quantidades e de cor rosa.

No Estado de São Paulo, Groppo acredita que provavelmente a Hortia brasiliana só ocorre atualmente em áreas de florestas de mata atlântica muito protegidas, como no Parque Estadual Serra do Mar  em Ubatuba e Caraguatatuba. “É muito possível que a gente encontre novos indivíduos se forem feitas mais coletas extensivas, especialmente nessas áreas inacessíveis, com trilhas mais difíceis”, explica o botânico.

Por Renata Takahashi / Tamoios News

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