domingo, 6 de novembro de 2022

Escritor Jorge Cocicov, morador da cidade de Ubatuba, será condecorado pelo presidente da Bulgária

 


O escritor e pesquisador Jorge Cocicov, 87 anos, será condecorado pelo presidente da Bulgária, Rumen Radev. A honraria será concedida como forma de reconhecimento pela contribuição de Cocicov no resgate da história da imigração e da cultura do povo búlgaro no Brasil. Cocicov nasceu em Mogi das Cruzes (SP), é descendente de búlgaros e por isso se interessou por histórias relacionadas ao país, conquistando inclusive a cidadania búlgara. O escritor possui residência em Ubatuba, tendo contribuído com a investigação e divulgação de uma trágica história envolvendo imigrantes na Ilha Anchieta.


Haverá uma cerimônia na sede da presidência da Bulgária, mas como o escritor não poderá estar presente, a condecoração será enviada à embaixada em Brasília, onde ele receberá a honraria. Cocicov dedica essa homenagem a toda a comunidade búlgara que imigrou para o Brasil, incluindo seus antepassados.

Além de escritor e pesquisador, Jorge Cocicov é oficial da reserva da Polícia Militar do Estado, Juiz de Direito aposentado, mestre em direito processual civil pela USP, membro da Academia Ribeirãopretana de Letras Jurídicas e articulista. 

Foto: Larissa Cocicov Gyotoku

Autor de uma trilogia sobre a imigração de búlgaros e gagaúzos bessarabianos para o Brasil, Cocicov escreveu também um livro todo dedicado ao ocorrido na Ilha Anchieta, então chamada Ilha dos Porcos, no ano de 1926. A obra intitulada “Castigo e Morte” reúne fotos, documentos e farto material jornalístico sobre a morte de 151 imigrantes na ilha, em sua maioria crianças. A principal causa dos óbitos foi a ingestão de mandioca brava. 

Em suas obras, o escritor explica como esses imigrantes foram parar na ilha. Eles estavam na Hospedaria de Imigrantes em São Paulo e seriam enviados para trabalhar em plantações de café. Mas quando souberam das péssimas condições em que eram tratados os que já estavam nessas plantações, se recusaram a ter o mesmo destino. Por causa da revolta, foram levados à força de trem até o porto de Santos e de lá foram embarcados rumo à Ilha dos Porcos. 

Foto: Renata Takahashi

Na ilha, onde já havia um presídio que estava abandonado, os imigrantes foram deixados sem qualquer assistência, passando fome e frio. Sem conhecer a toxicidade da mandioca brava, foram vítimas de intoxicações fatais causadas por esse tubérculo do qual se alimentaram inadvertidamente. As autoridades governamentais alegavam que o presídio era uma “hospedaria provisória”, porém Cocicov registra a precariedade do local onde esses imigrantes foram praticamente despejados e largados à própria sorte.

O trabalho de Cocicov de resgate dessa história já atraiu pesquisadores búlgaros ao Brasil, que vieram especialmente para conhecer a ilha Anchieta. Além disso, em 2016, o dia 18 de abril foi instituído no calendário oficial de eventos de Ubatuba como o “Dia municipal aos imigrantes búlgaros e gagaúzos bessarabianos”.

Dois livros de sua trilogia sobre a imigração para o Brasil já foram traduzidos para o idioma búlgaro e têm sido estudados por historiadores e universitários da Bulgária e da Moldávia. Segundo Cocicov, o professor búlgaro Nikolai Chervencov, presidente da Sociedade Científica para Estudos Búlgaros na República da Moldávia, é um dos principais divulgadores de suas obras e foi quem deu a notícia da condecoração, recebida pelo escritor com muita alegria.

Por Renata Takahashi / Redação Tamoios News

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