segunda-feira, 6 de março de 2023

Rio-Santos foi desenhada para o turismo, mas hoje isso traz problemas. Saiba quais

 




Por Ludmilla de Lima e Ivan Martinez-Vargas

Obras de contenção de encostas / morros e novo pedágio próximo a Conceição de Jacareí, Angra Brenno Carvalho / Agência O Globo.

Na terça-feira, um dia antes de a concessão do trecho da Rio-Santos (BR-101) entre Santa Cruz, na capital fluminense, e Praia Grande, em Ubatuba, completar um ano, um temporal na região das usinas de Angra 1 e 2 despejou 150 mm de chuva em seis horas, na altura da Praia Brava, em Angra dos Reis. Pedras rolaram de uma encosta sobre as pistas, que foram fechadas pela concessionária, a CCR RioSP. Foi a quinta vez que o tráfego precisou ser bloqueado preventivamente desde dezembro. De abril para cá, a concessionária precisou intervir em 92 encostas ao longo dos 270 quilômetros do trecho sob a sua administração — há 40 frentes de obras em andamento. Entre Angra e Mangaratiba ficam os pontos considerados mais críticos.

Os deslizamentos que arrasaram vilas do Litoral Norte paulista às margens da Rio-Santos em trecho gerido pelo governo de São Paulo no carnaval são uma amostra do quanto a estrada é complexa, em termos de segurança. Ela foi aberta entre a serra e o mar no começo dos anos 1970, para ser um motor de desenvolvimento da Costa Verde e do Litoral Norte de São Paulo, que até então escondiam, com a proteção da Mata Atlântica, praias e ilhas hoje disputadas por turistas. Com a especulação imobiliária, também se viu a ocupação desordenada de seus morros. Ainda assim, a Costa Verde preserva 80% de cobertura florestal, de acordo com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais.

Mapa de risco da rodovia: 92 intervenções em encostas desde abril de 2022 — Foto: Editoria de Arte

Mapa de risco da rodovia: 92 intervenções em encostas desde abril de 2022 — Foto: Editoria de Arte

— A Rio-Santos não contou com um traçado mais adequado pelos princípios da geologia. O projeto procurou os caminhos turísticos desde a sua criação — diz Manoel Francisco de Oliveira, ex-secretário de Desenvolvimento Econômico e Turismo de Angra. — A grande preocupação aqui sempre foi com as usinas nucleares: elas não têm risco de serem atingidas por tsunami, mas pela encosta da Rio-Santos.

Em abril do ano passado, chuvas que chegaram a 680 mm provocaram 453 pontos de escorregamento de terra e pedras nos 270 km geridos pela CCR. Em Monsuaba, na cidade de Angra, houve deslizamentos dos dois lados da pista, com 11 mortes e casas soterradas. A concessionária tratou de forma emergencial a situação das encostas e antecipou projetos de drenagem e contenção previstos para anos seguintes do contrato, que é de três décadas.

— Segregamos a estrada em trechos de 10 km, e temos mapeados em cada um os pontos sensíveis. Nesses pontos, quando chove em nível pluviométrico acima da média, são acionados gatilhos para o plano de emergência. O primeiro gatilho é de chuva de mais de 33 mm em uma hora — afirma Leandro Guimarães, coordenador de Operações da CCR RioSP.

 Obras de contenção de encostas / morros e novo pedágio próximo a Conceição de Jacareí, Angra — Foto: Brenno Carvalho

Obras de contenção de encostas / morros e novo pedágio próximo a Conceição de Jacareí, Angra — Foto: Brenno Carvalho

Marcos Barreto, especialista em Geotecnia e professor da Escola Politécnica da UFRJ, considera a Rio-Santos uma estrada de risco elevado, baseada em aterros e cortes de encostas. O ideal, afirma, seria uma estrada como a da Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo, com túneis e viadutos.

— Era necessária uma quantidade absurda de obras de contenção de encostas. Contornar as encostas também foi uma forma de baratear o projeto — diz o especialista.

Em São Paulo, a Rio-Santos é uma rodovia estadual. O Departamento de Estradas e Rodagem (DER) é responsável pela manutenção dos trechos entre o km 53, em Ubatuba, até o início do km 120, em São Sebastião, e entre os quilômetros 130 e 248. Mas a rodovia também é administrada em 10 quilômetros pela prefeitura de São Sebastião e, nos 44 quilômetros finais de Guarujá a Praia Grande, pela Ecovias, concessionária do Sistema Anchieta Imigrantes.


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