Fragmentos de microplásticos estão presentes em peixes e nas águas e sedimentos das praias de Barra Seca e Perequê-Açú, no município de Ubatuba, em São Paulo.
Trabalho realizado ao longo do ano de 2021, coletou 120 peixes e encontrou partículas sintéticas de plástico no corpo de 38% deles
Redação SPRIO+
É o que constatou um estudo da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) e Unesp (Universidade Estadual Paulista), publicado no último mês na revista científica “Neotropical Ichthyology”, divulgado pela Agência Bori.
O trabalho, realizado ao longo do ano de 2021, coletou 120 peixes da espécie Atherinella brasiliensis, ou peixe-rei, em três regiões da costa ubatubense, e encontrou partículas sintéticas de plástico no corpo de 38% dos peixes analisados.
Além dos peixes, foram examinadas cinco amostras de água da superfície marinha e cinco porções de areia coletadas nas diferentes regiões no inverno e no verão. O intuito foi comparar a presença de microplásticos no ambiente e no trato digestivo dos animais. Para completar as análises, os cientistas avaliaram variáveis como a temperatura, a acidez e a presença de sólidos suspensos ou turbidez da água, utilizando uma sonda.
Segundo um dos autores do estudo, o pesquisador George Mattox, da Ufscar, o peixe-rei é uma espécie onívora, que se alimenta de plantas, algas e outros peixes, e pode consumir esses fragmentos de plástico por engano.
“Muito provavelmente, ele ingere as partículas sintéticas porque elas têm o mesmo tamanho e a mesma cor do alimento natural”, afirmou em nota.
A maior parte das partículas coletadas era transparente ou azul e contava com formato fibroso, enquanto o tamanho da fibra se mostrou relacionado com o porte do peixe.
Contaminação
Na água e no solo, a quantidade de detritos sintéticos variou entre as praias. O valor máximo ocorreu nas águas de Barra Seca, com 490 partículas por metro cúbico no verão. Para fins de comparação, o valor mínimo registrado pelo trabalho – 300 partículas por metro cúbico – ocorreu também no verão, na porção da praia de Perequê-Açú, classificada como brava pela pesquisa.
Barra Seca também foi o local onde os peixes coletados apresentaram maior taxa de contaminação: cerca de metade dos indivíduos analisados tinham resquícios de material sintético no organismo. Isso indica a relação entre a concentração de partículas no ambiente e sua presença no organismo dos animais. Os pesquisadores explicaram que isso ocorre porque esta praia é mais calma e tende a acumular mais sujeira por conta do regime de correntes. Mattox pontua ainda que o local é o destino de desembocadura de rios, os principais aportes de resíduos e partículas plásticas que vêm do continente.
Ainda de acordo com o autor, as consequências da presença de micropartículas sintéticas nesses ambientes têm efeitos muito além dos imediatos.
“Quando ingeridos pelos peixes, esses plásticos não são digeridos e vão se acumulando no organismo. Eventualmente, o peixinho pode morrer entupido de plástico”, diz. Mattox também salienta que podem ocorrer graves repercussões para o ecossistema e para os seres humanos. “Qualquer animal que coma esse peixe vai comer o plástico que está dentro dele, inclusive os pescadores artesanais, ribeirinhos e caiçaras, por exemplo”, completou.
Para evitar que esse cenário continue se perpetuando, os pesquisadores indicam que é necessário um esforço conjunto entre as autoridades e a população.
“Esperamos que, com esses resultados, possamos fomentar políticas públicas no sentido de conscientizar a população e os tomadores de decisão para darem o destino adequado para o plástico e atuarem em prol dos famosos três Rs: redução, reutilização e reciclagem”, concluiu.
FONTE :
Nenhum comentário:
Postar um comentário